5 de novembro de 2012

21*



“Esqueci os fones para me acompanhar naquele metrô quase vazio. A menina do banco à minha frente fez o que eu faria: deixou a música no último volume. Não reclamo, mas observo que ela fecha os olhos enquanto uma melodia ensaiadamente calma entra pelos seus ouvidos. Era o caos que eu precisava, não a calmaria. Ela ouvia o quê? Um samba sem graça? Um jazz entendiante? Um som sem voz? Tudo o que eu sempre ouvira, de fato. Ela ouviu alto um som sem dor; eu ouvia a minha dor em silêncio. Onde enfiaram o rock gritante? A garganta estridente? Eu preciso de um barulho que me conte à estrela que queira me ouvir. Até a respiração daquela menina era nos conformes, enquanto eu quase me sufocava em mim, arfava, puxava o ar e não encontrava. Alívio, qualquer grito era alívio. Qualquer soco era alívio. Qualquer dor era alívio. Eu ainda me culpo pelas culpas e o tempo perdido. O barulho do metrô se arrastava plataformas a dentro. Uma estação, duas, três… O caminho nunca acaba. Alguém desliga o som da menina, por amor de Deus. Alguém sacode ela, diz que é hora de acordar, que nunca fora hora de dormir. Esse cabelo bem feito, as unhas intactas: o que deu naquela menina para andar essa hora num lugar desses? Esses lugares por onde ando ninguém se acha. Os meus becos sem saída são redundantes para os meus olhares perdidos. A menina tão… menina. O que faz dela uma andarilha como eu? Será que ela não tem onde chegar ou foge do que a espera? Porque eu sou as duas pontas da corda que sempre arrebenta, os dois lados da incerteza, os dois destinos da fuga. Um casal entrou sorrindo bem na porta à nossa frente. Vi a menina abrir os olhos pela primeira vez. Olhos de inveja branca. Ela achou o amor bonito… Tudo bem, talvez aquela música calma não diga tanto sobre ela, visto a loucura que o amor nos exige e o rock mais pesado que ele se torna. Última estação. Ela vai descer no mesmo bairro sujo que eu, ainda que sustente uma pele tão limpa e um cabelo tão bem nascido. A música não para, é tarde e ela anda com a calma de quem vive cedo. Ou engana. É que eu, menina, cansei tanto de (me) enganar. Rumo perdido ou rumo nunca tido? Sou os dois, e você? Ela não me ouviu, claro. O celular dela tocou. Modelo novo, eu sabia, segui me perguntando o que alguém assim faz nos mesmos lugares que eu. Impróprio para almas limpas, pensei. Quase disse: corre, menina, foge enquanto há tempo e ainda é possível se achar. Bobagem, ela se achou muito rápido. Aquela música tocando junto ao celular eu conhecia… “It’s too late to apologize…” Too late, girl, you don’t know how late is. Aterrizei. Assim que atendeu e sorriu, olhou para o outro lado da rua. Sorriu novamente e desligou zombando, certamente, da própria falta de atenção. Claro, claro que alguém esperava por ela na última estação. A música calma dizia sim muito sobre ela: alguém a espera em algum lugar, mesmo o lugar sendo tão inesperado. Eu segui, porque não há quem me espere aqui ou em outra estação. E me perdoar pelo muito que me perdi, é tarde demais. Aumenta o som, menina. Maybe, “apologize” is tre right song to me. Há caminhos sem volta, sem perdão. Há solidão sem perdão. Maldito banco errado naquele metrô. Maldito cigarro que se apagou e eu nem comecei…”


8 comentários:

  1. pois então não sei :o só se for do facebook, não sei :)

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  2. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  3. ah eu sou mesmo assim, melancólica querida, o resto claro influencia. mas está tudo bem!
    ainda bem que contigo também!

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  4. absurdamente magnífico ó querida! :3

    adoraria se visitasse meu blogue e seguisse, caso te apeteça;

    beijos no ♥

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